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Tuesday, June 22, 2010

minha cachorra tem um parafuso a menos

Manja aquele susto que começa com um choque na ponta da espinha, sobe até o peito, como se sentisse um soco seco e vai para o rosto num tranco, como se sua orelha soltasse fumacinha? Foi esse susto que eu tomei ontem.

Tô entretida na cozinha quando ouço um barulho no escritório - vulgo quarto de empregada todo trabalhado no computador. A luz tá apagada, dô uma bisolhada despretenciosa. No meio do passo em direção à origem do barulho, de novo (é nessa hora que eu sinto aquele raio paralizante percorrendo meu corpo em um segundo, em outras palavras: é nessa hora que eu tomo o susto). Parecia um bicho se remexendo em cima da mesa, atrás da tela do computador. Primeira alucinação: um rato gigante entrou no escritório pela fiação e está preso nos fios do computador. Tomo coragem para botar o dedo no interruptor e acender a luz, já com um grito de filme de terror na garganta só esperando o menor impulso para sair. E quando a luz invade o ambiente, o inusitado toma conta: vejo o rabo da minha cachorra - uma basset preta -, Chica da Silva abanando atrás da tela do computador. Ah, a adrenalina vai no dedo do pé, alívio. Agora me diz, Chica, o que você está fazendo aí, sua vira-lata? Até hoje não sei.

Como não sei também o que se passa na cabeça dela quando nós a presenteamos com a equação praia+bolinha. A alegria da bicha é tanta que ela coloca sua vida em risco e ainda sai feliz abanando o rabo. Na última vez, ela enfrentou uma ressaca big rider para pegar sua bolinha, foi arrastada por uma onda (na verdade eram quatro ondas juntas que não dava para saber onde começava uma e terminava outra), e ainda saiu de lá com a bola na boca. Meu marido que saiu correndo para "salvá-la" (como se ela precisasse), quase foi engolido pelo maremoto. Restou a quem assistia tudo da areia, morrer de rir da cena.

A Chica tem várias reações "Gente Foi Horrível", como quando faz sons similares a de um galo para "intimidar" os vizinhos que saem do elevador do hall, ou quando, com a bola na boca, começa a abanar a cabeça rosnando que nem um leão. Ela é meio louca, já desconfiava mesmo. Quando vai alguém em casa consertar coisas, geralmente homens, ela dá uma de valentona, mas é só o cara dar uma trela pra ela, que ela se desmancha toda. "Que vergonha, Chicaaa", a gente fala. E quando ela faz M? Ela mesma se denuncia, já sai direto para a caminha, de orelha baixa, esperando o pior.

Ah e só para fechar a história anterior, a do "rato-salsicha-preta-atrás-do-computador", tenho duas teorias. Uma: ela pode ter sentido o cheiro de uma vela de mel que eu coloquei por ali (aliás, ando numa fase de velas aromáticas, bem gostoso). Outra: como aquele lugar deve ser quentinho por causa do calor do computador, ela procurou refúgio ali para o frio de SP, fazendo aflorar seus instintos mais animais de cachorro de toca (que ela é, afinal).